Tenho saudades tuas.
Sabes, a saudade que povoa estes dias é feita de bolas de sabão, não tem cheiro, tem cheiros, não tem cor, tem cores... é feita de ti, por ti, pela tua ausência.
Agora, convenci-me ou convenceram-me que tinha de ser assim, ando a aprender a esquecer-te. Esquecer-te... um eufemismo de afectos, que quer apenas dizer que tenho de te arrancar do peito e da lembrança, até que doa tanto que, até que, deixe de doer.
A vida tem-me mostrado que só o tempo adormece paixões. O tempo que te afasta de mim, a natureza sábia, ajuda-me a sobreviver à tua ausência, na expectativa de que -um dia- a tua ausência e todas as tuas ausências deixem de doer.
Não sei o que te trouxe e, muito menos, o que te levou para longe. Passaste por aqui, deixaste cativo o meu coração, ficou a tua marca... o teu cheiro, o teu toque, o teu sorriso, tu feito de ti, e de mim, e de nós, e dos olhos com que te vejo, os mesmos olhos que te viram para logo te amarem. Já não te vejo. Sem querer, mesmo sem querer, ainda te sinto. Imagino-te. Algures, do outro lado do mundo, num país que destruiu outro e permaneceu cruelmente intacto e belo. Sou Timor, devastada por ti. Foste embora. Deixei... deixei-me... deixei-te... ir.
Posso fazer de conta, não choro, não sei chorar, sou uma menina crescida, as meninas crescidas não choram. Peter Pan. Não estás aqui mas eu continuo a ser a Wendy, com alma de Sininho, esperando sem esperar, à espera de um Peter Pan... Gonçalo.
Gonçalo, sempre adorei pronunciar o teu nome, eu gosto de ti. Gonçalo.
Se calhar não devia gostar. Tento gostar menos, todos os dias um bocadinho. Perdi-te, no dia em que me perdi de ti. Perdi-me, no dia em que te perdi. No fio dos dias. Tento encontrar-me, para me poder perder sem ti, em ti, em mim e através de ti.
Não estou triste. Não penso. Não falo. Não escrevo. Sonho. Imagino. Recordo, o passado, o presente e o futuro. Enquanto me lembrar do teu sorriso. A vida levou-te para longe de mim e tu foste, quiseste ir. Tu e a tua Baby. Não tenho ciúmes, ela só existe na medida em que te for fazendo feliz. Um Avião. Uma Ilha. Um bangalow em cima da praia. Acordar e ver o mar. Um mês. Tu e a tua Baby. Depois hás-de voltar, no fio dos dias, e eu vou estar aqui. Sorriso franco. Olhos brilhantes. Braços abertos. Morena. Alegre. Renascida. Renovada. Reciclada.
Gosto de ti mas, aprendi a viver sem ti. Este amor é feito de ausência. Pela ausência, sem ti, vou aprender a não gostar tanto de ti. Cada dia, a cada dia porque, sou uma aluna aplicada. Determinada e metódica, posso levar tempo mas, hei-de conseguir. "Você não me ensinou a te esquecer".
Ainda não te contei, vou ter cinco filhos, ouvi dizer que vais ter seis. Já escolhi os nomes... Maria Madalena, Francisco Maria, Maria, Martim Maria e Tomás Maria. Não me importava de ter mais um. Os meus, os teus e os nossos.
Tento aprender a esquecer-te, só não consigo aprender a deixar de sonhar. Sonho contigo, porque, ainda tenho saudades tuas. E vou sonhando o próprio sonho.
Volto às bolas de sabão. Hoje choveu. Um arco-íris imenso no céu. Um coração feito de espuma. No fio dos dias... Gonçalo...
Vou tendo saudades tuas.
E um coração feito de espuma.